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Eliana de Lima: a prova de que a mulher pode ser o que quiser

  • Rosa Donnangelo
  • 5 de out. de 2015
  • 3 min de leitura


“Puxar samba enredo não é coisa de mulher”. Essa é uma das frases que Eliana Maria de Lima, uma das principais cantoras do samba paulista, cansou de ouvir na década de 80. O primeiro contato com as escolas de samba de São Paulo foi em 1979. Desde aquela ano, Eliana é apaixonada por carnaval. O coração, porém, é dividido. De um lado a Leandro de Itaquera e do outro a Unidos do Peruche. A história com as duas escolas é bastante intensa e de importância fundamental na sua carreira.


Os puxadores de samba da época não acreditavam que aquela menina, de quase 19 anos, de fora da comunidade, (Eliana nasceu no Tatuapé, bairro da zona leste de São Paulo) poderia puxar um samba enredo no carnaval, mas ela mostrou a que veio bem cedo. A qualidade de sua voz apareceu para os integrantes da Escola de Samba Príncipe Negro: foi convidada a defender o samba da escola, a gravá-lo e, em seguida, a puxá-lo na Avenida. Era tudo muito novo para Eliana.


As fisionomias em tom de desaprovação pela voz feminina em meio ao coro de intérpretes masculinos não a amedrontrou. Foi uma das primeiras mulheres a exercer essa função no carnaval e até hoje é reconhecida por isso. “Para mim foi coisa do outro mundo, minha mãe era evangélica, a gente não podia ver o carnaval pela televisão e quando eu cheguei na avenida e vi aquela multidão eu não entendi nada. Mas enfim, eu já estava lá e segui”, relembra.


Da Príncipe Negro - sua primeira porta aberta - Eliana seguiu para a Unidos do Peruche, em 81. Lá também defendeu o samba enredo da escola, que estava no grupo de acesso, ganhou e levou a Peruche para o grupo especial.


A trajetória da puxadora de samba é longa e nem tudo foi somente flores. Uma coisa é certa - a defesa dos sambas enredo ela podia fazer, mas não havia espaço para ela, por ser mulher, puxar o samba. Passou por escolas grandes, como a Barroca Zona Sul e Imperador do Ipiranga, mas o machismo não deixou Eliana “permanecer”. “Na Barroca Zonal Sul, por exemplo, eu defendi o samba enredo e não me deixaram puxar. São situações que na época me magoaram muito, mas fazem parte da minha carreira. Eu levo tudo como aprendizado”, comenta. Surgiram outras responsabilidades que a fizeram deixar as quadras, mas Eliana tem consciência de que as escolas de samba por onde passou são parte fundamental da trajetória consolidada que tem hoje.


O grande ápice da carreira como cantora foi com a gravação do samba enredo para a Peruche - “Águas Cristalinas”. O interior de São Paulo inteiro passou a reconhecer Eliana,como cantora e puxadora de samba. As casas noturnas a procuravam. Veio então o grande sucesso nacional: “Desejo de Amar”.


O ambiente das escolas de samba não favoreciam as mulheres, mas Eliana nunca desistiu. Contou que, por algumas vezes, teve que provar através do trabalho feito e de um estudo da música e da voz que era capaz. Era focada. Para algumas situações era preciso cautela, afinal, uma mulher cantando samba poderia ser interpretada de outra maneira. Era a sociedade da época. “Eu precisava pegar o ônibus na Praça do Correio e muitas vezes eu ficava sozinha no ponto. Apesar de que naquela época não tinha a violência que se tem hoje. Mas por que eu fazia isso? Eu preferia ficar no ponto de ônibus a pedir carona. Porque você sabe...Uma carona quase cinco horas da manhã? Quando ele é homem ele pode pensar o que ele quiser”, lamenta.


O samba, para Eliana, precisa aparecer mais na mídia. Ela não acredita em perda de identidade, mas enaltece o rumo que a indústria da música tomou e as consequências disso para os artistas e público. “Hoje se fala em investidores e não mais em gravadoras - para que gravar músicas se elas estão disponíveis online?”, questiona. O espaço nas rádios segmentadas de samba não o enaltece como deveria. “O que eu acho que o samba precisa é de um espaço maior na televisão, mas eu não acho que o samba está perdendo a identidade. Porque quando um fã gosta muito de um artista, esse artista não fica velho. Eu penso que a música nunca fica velha. Só vai perder a identidade se a gente deixar!”, explica.


São 35 anos de carreira e sucesso. Já fez grandes parcerias e shows e o mais novo CD “Minha vida, minhas canções” já está em andamento, será um apanhado dos 35 anos de história em várias faixas.


 
 
 

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