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"O samba pede passagem"

Quem ouve  Moisés da Rocha falar pela primeira vez e não conhece sua trajetória no rádio pode tentar adivinhar sua profissão: cantor ou locutor. A voz, marcante e grave, está a frente do programa “O samba pede passagem”, no ar há 37 anos pela Rádio USP FM. Idealizado e comandado por Moisés para difundir o samba, a cultura afro e mostrar o que a periferia produz, o programa se tornou um espaço de divulgação de antigos e novos talentos do samba, hoje por muitas vezes desprezados pela mídia hegemônica.

 

Radialista por vocação, produtor e pesquisador do samba, Moisés sempre se interessou em preservar as raízes desse gênero musical, não deixando de lado seus principais nomes, compositores e personagens. Ele faz do “O samba pede passagem” uma espécie de curadoria de novos talentos. Foi Moisés quem tocou, pela primeira vez, por exemplo, músicas do hoje consolidado, “Grupo Fundo de Quintal”.

 

Deve-se lembrar que o pioneirismo de Moisés da Rocha em tocar samba na rádio FM fez com que mais programas do gênero aparecessem. “Outras emissoras já colocaram programas no mesmo horário do meu para competir”, comenta.

 

Por mais que tenha havido aumento na divulgação dos cantores e cantoras de samba, o radialista lamenta os rumos que festas e ritmos de música de origem popular estão tomando. “Quando a mídia, a imprensa, pega algo do popular, ela suga, suga e joga fora. É a coisa do momento”, lamenta. O mesmo, na visão de Moisés, acontece com o carnaval. “O samba deixa de ser marginalizado com o advento da TV. Quando a TV  se enfia no samba, e eu acho que tudo que uma Globo entra no meio para organizar, transmitir e para faturar em cima, começa a dar status. A classe média entra nesse meio. Deixa de ser coisa da negrada e subcultura”, conta. Para contextualizar Moisés citou um samba, atual na sua visão e que resume a sua crítica, veja trecho abaixo e ouça aqui

 

Visual

 

“Depois que o visual virou quesito

Na concepção desses sambeiros

O samba perdeu a sua pujança

Ao curvar-se à circunstância

Imposta pelo dinheiro

E o samba que nasceu menino pobre

Agora se veste de nobre

No desfile principal

Onde o mercenarismo

Impõe a sua gana

E o sambista que não tem grana

Não brinca mais o carnaval”

 

Como pesquisador e amante do samba, o radialista não deixa de ressaltar a importância das mulheres na construção das escolas de samba. Segundo Moisés, por mais que o comando dessas entidades ainda estivesse em poder dos homens, eram as mulheres que garantiam a sua subsistência. Como nome de importância, Moisés citou o Deolinda Madre, a Madrinha Eunice, uma mulher que vai ao Rio de Janeiro buscar referências de carnaval, retorna para São Paulo e funda uma das primeiras escolas de samba que se destacam no carnaval paulista - a sobrevivente Lavapés. “Essas mulheres que garantiam a subsistência eram vistas como líderes também”, explica. Madrinha Eunice é um símbolo de coragem, ela ultrapassou todas as barreiras da época, primeiro por ser mulher e também por ser pobre e negra.

 

Para ouvir ais histórias e conhecer o mais profundo do samba, não deixe de ouvir “O samba pede passagem”, aos sábados e domingos, meio dia,  pela Rádio USP FM (93,7). É possível também ouvir online acessando o site: http://www.radio.usp.br/?page_id=13 

 

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