Flores do Samba
As memórias de um dos principais nomes do samba paulistano
São 75 anos de vida e muitos deles dedicados ao samba. Cresceu em uma família humilde, sem pai e mãe e agradece o que o samba pôde lhe proporcionar. Vários colegas que o acompanhavam na juventude já se foram e os poucos que restaram não se interessaram pela cultura. Osvaldo de Barros, mais conhecido como Osvaldinho da Cuíca, se interessou - e muito! É um dos grandes conhecedores do samba paulista e se baseia, para além dos livros, nas experiências vividas.
Ele é da época que escola de samba não tinha esse nome: era cordão carnavalesco. Da época dos batuqueiros, das rodas de samba nas esquinas de ruas, do samba marginalizado e não oficializado, da repressão da polícia e das mulheres fora de qualquer contexto: menos para servir bolinhos e cachaça no carnaval de rua paulistano, quando a “avenida” ainda não era o sambódromo do Anhembi.
Osvaldinho não diz que o samba é machista, não com essas palavras, mas concorda que a mulher que frequentava as rodas de samba era vista como vulgar. “Quando o samba não era oficializado, era considerado coisa de marginal. As poucas mulheres que participavam das rodas eram as mulheres dos dirigentes do samba, dos donos dos batuques. Estamos falando da década de 1950”, comenta. O músico também lembra que na época do carnaval de rua em São Paulo, as mulheres eram responsáveis pelos quitutes que alimentavam os foliões dos blocos carnavalescos.
Por mais que a mulher fosse excluída do samba na época ou a ela fossem atribuídas tarefas domésticas, Osvaldinho recorda que a mulher já marcava presença em uma outra cultura, paralela ao samba: os batuques nos terreiros, do candomblé e da umbanda.
Apesar de considerar verdadeira a afirmação de que a mulher que frequentasse as rodas era mal vista, Osvaldinho não enxerga nisso somente um preconceito. “Era também um jeito de olhar. A mulher sempre teve que passar a impressão de delicada. Hoje não. Hoje a mulher joga futebol, está em lugares que eram só de homens. Antes nenhum homem queria ver a sua mulher de calção chutando bola”, explica.
Houve, na visão de Osvaldinho e nos seus registros de memória e história, muitas mulheres que ajudaram na construção da história do samba paulista. Ele cita, como destaque de puxadoras de samba enredo, Eliana de Lima (o Flores do Samba a entrevistou, leia aqui), Ivonete, puxadora de samba do Acadêmicos do Peruche, e como intérpretes de samba, Elizete Rosa, da Vai-Vai, Carmem Jóia, Leila Silva e Carmélia Alves, cantora que gravou, ao lado de Geraldo Filme, o primeiro LP dos sambas enredo das escolas de samba de São Paulo, em 1969, ouça um dos sambas aqui.
A diminuição do preconceito com a mulher em ocupar espaço dentro do carnaval só passou a acontecer depois que algumas artistas, a fim de promover suas carreiras, adentraram nas escolas de samba. O pioneirismo dessas cantoras abriu portas para outras mulheres fazerem história também. “Isso aconteceu pós - oficialização do samba, em 1968”, finaliza.
